Despedida
- Ivanize de Souza
- 24 de out. de 2021
- 3 min de leitura
Quando há o falecimento de um ente querido, a despedida efetivamente ocorre em seu enterro. Ali fica confirmado em sua mente, que a pessoa realmente partiu desse plano, onde seu corpo foi enterrado e concretizado assim o último adeus.
Isso não ocorreu para mim e minha família.
Não vi o corpo do meu filho e não pude enterrá-lo.
Isso me torturou na época.
Matheus faleceu no dia 16/06/21 e só foi cremado no dia 08/07/21.
Foram 22 dias de angústia, o que aumentava ainda mais minha tristeza.
Sei que era somente o corpo que estava lá, mas ainda assim, tinha um sentimento de abandono.
Meu filho em uma geladeira de necrotério, e eu sem respostas exatas de quando seria cremado.
Por conta da pandemia não pude ir até Los Angeles. As informações que eu tinha, eram de ligações ou e-mails mal respondidos.
Infelizmente, morrem diariamente em Los Angeles, muitos jovens pelo mesmo motivo: overdose.
Então, ele era somente um número para as pessoas que trabalhavam para a liberação de sua cremação.
Já citei, e ainda vou falar milhões de vezes, de como é importante o carinho das pessoas que estão ao redor de quem está de luto.
E fui e estou sendo muito bem cuidada.
Meu marido, muito paciente e amoroso, me ampara o tempo todo.
Minha filha, tão carinhosa, sempre aqui ao meu lado, me dando todo amor que preciso.
Minha mãe, irmãs e família me enviando sempre palavras de conforto.
E amigos queridos que ficaram ao meu lado.
Meu marido e amigos organizaram uma linda despedida para Matheus. Foi celebrada uma missa, na Igreja Anglicana com Reverendo Aldo.
Vários motociclistas chegaram em suas motos, foi bonito de ser ver.
No final da missa nos reunimos em círculo, no pátio da igreja, e foi feita uma linda oração pelo Reverendo, e cada um dos participantes estavam com uma vela e uma rosa nas mãos.
Fiquei emocionada e agradecida pelo carinho.
E serei eternamente grata, a cada um que esteve comigo nesse momento.
Longos 22 dias…
Antes da partida do Matheus, Mauro e eu tínhamos um passeio de moto agendado.
Nessa viagem passaríamos por várias cidades do Sul.
Decidi seguir a programação e fazer a viagem.
Foi importante pra mim sair naquele momento, para tentar não enlouquecer.
Viajamos em quatro motos, com amigos muito queridos, que literalmente seguraram minha mão em todo momento, e seguram até hoje.
Em cima da moto eu me conectava com Deus e pedia para Ele me dar forças.
Eu tinha mais questionamentos que aceitação. Era difícil aceitar tudo que estava acontecendo.
Mesmo com lindas paisagens, companhias fantásticas e todo carinho que eu estava recebendo, eu não consegui aproveitar quase nada dessa viagem.
A cabeça sempre ligada ao acontecido e angustiada com a espera da cremação.
Sempre tive uma ligação muito forte com o Matheus. Algo espiritual e energético que ninguém sabe explicar.
Eu sentia quando ele estava triste ou quando passava por algum problema. Como? Não sei explicar, mas eu sentia.
Até o dia 08/07 eu ainda tinha essa sensação muito forte de sentir meu filho.
Mas algo sobrenatural aconteceu…
Estávamos na cidade de Ametista do Sul/Rs.
Naquele dia eu não sentia mais meu filho. Aquele “sentir” sua tristeza, alegria, angústias ou vitórias. Não tinha mais essa conexão.
Me lembro como se fosse hoje…e no silêncio da igreja, em conversa com Deus, senti uma certa paz e comecei a ter momentos mais racionais, sem desespero.
No final da tarde Mauro recebeu e-mail dizendo que Matheus havia sido cremado. Entendi porque foi desligada minha conexão com meu filho…
Quando conto para alguém esse sentimento, somente quem é mãe me entende.
Só uma mãe sabe o que é essa ligação de “cordão umbilical energético”.
Ainda hoje me pergunto porque essa sensação, ou sentimento, não permaneceu após a partida do Matheus.
Como seria bom se eu pudesse senti-lo, saber se está bem, se já despertou, se tem consciência do que está acontecendo…enfim.
Como seguidora da Doutrina Espírita, sei que Matheus violou as leis de Deus com sua atitude irracional.
Ele interrompeu o plano que Deus tinha pra ele, e pelo meu entendimento, partiu como suicida…mesmo que inconsciente.
E por esse motivo minhas preocupações de mãe continuam.
Como está, onde está, está sendo cuidado?
Meu Deus, como é difícil não pensar em tudo isso. É muito difícil…
“Pai amado e misericordioso,
Perdoa essa filha que ainda precisa de muito para aprender.
Perdoa se falhei como mãe, eu achava que estava desenvolvendo bem meu papel, mas não estava.
Me perdoa por ter dificuldades de aceitar a partida do meu filho, mesmo tendo a certeza do reencontro.
Me ampare meu Pai, para que eu me torne uma pessoa mais forte.
Me ensina a ter mais fé, e entregar para Ti todas as minhas dores e angústias.
Leva Senhor, até meu filho, somente o amor enorme que eu sinto por ele.
Bloqueie toda a tristeza que sinto, para que esse sentimento não chegue até ele, não desejo ferir seu coração.
Perdoa meu Pai as minhas falhas e as falhas do meu filho.
Daí-nos a oportunidade de recomeçar, dessa vez, como pessoas melhores a cada dia.”
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